quarta-feira, 30 de abril de 2008

Trabalho reposição de aulas

1) Onde e quando: Em 24 e 28/04/2008, no estacionamento de Ônibus e Peruas da PUCC – Campus I. O trabalho se desenvolveu no período noturno, das 19:40 às 21:15 hs, nas duas noites.

2) Objetivos / Metas: A idéia é de estar em contato com os elementos objetos de estudo. Acompanhar sua atividade enquanto em espera pela continuidade do seu trabalho propriamente dito, que consiste em transportar os alunos de volta às suas casas depois de finalizadas as aulas do dia. Verificar quais atividades desenvolvem para “matar o tempo” e como se comportam.

3) Etapas: Procurou-se o contato de forma casual, de forma a não interromper as suas atividades e nem tampouco constranger os participantes. Também era nossa intenção estar o maior tempo possível com o grupo, de forma a perceber com mais clareza qual a identidade do mesmo.

4) Indivíduos: O objeto de estudo são os perueiros que transportam alunos. No caso em questão, foi escolhido um grupo que se destacava dos demais grupos que se formam pelo visto todas as noites no mesmo local. Este grupo tinha 9 elementos, todos do sexo masculino, na primeira noite de estudo. Idade aproximada de 30 a 50 anos, com predominância de 30 a 40 anos. Em geral razoavelmente bem vestidos, estando todos de calça comprida na noite quente, sendo 3 com jeans e o restante com calças sociais. Camisas do tipo pólo prevalecem, sendo que o restante utilizava camisas sociais de manga curta. Tênis é o calçado predominante, sendo utilizado por 6 do grupo. O restante usava sapatos sociais, sendo que 2 usavam os do tipo mocassim. Na segunda noite, o grupo manteve uma formação semelhante, porem com 2 elementos a menos.

5) Instrumentos / materiais: Este grupo se caracteriza por ter um instrumento em comum, mas é o seu instrumento de trabalho: a Van. No momento da abordagem para este estudo, não portavam nenhum instrumento que os diferenciasse das demais pessoas em geral.

6) Elementos que tornam o evento peculiar: O grupo, durante a primeira noite de contato, já se encontrava em uma discussão sobre os temas mais diversos possíveis. Durante a abordagem foi criado um momento de “quebra” do assunto, até se restabelecer o clima de cordialidade com a nossa presença. Estavam postados próximos a escada de entrada do estacionamento, e o assunto era sobra a interrupção do transito na cidade em torno da nova rodoviária. Caminhos a serem tomados para fugir do congestionamento e como proceder para não ser envolvido.
Já no segundo contato, os acontecimento futebolísticos do final de semana, envolvendo o primeiro jogo da final do Campeonato Estadual, entre os times da Ponte Preta e do Palmeiras, dominaram a discussão da noite. Os integrantes do grupo, todos homens, discutiram acaloradamente sobre detalhes do jogo e principalmente quais atitudes o time deveria tomar para ter chances de vencer o adversário no próximo jogo e com isto conseguir o título de Campeão Estadual.

7) Papel do evento na identidade: O grupo tem este momento de espera pelo retorno dos alunos, cerca de 3 horas por noite, como tempo para ser preenchido. Percebe-se que alguns perueiros, por razões outras, procuram estar sozinhos, lendo (ou talvez estudando) em suas peruas. Outros, sozinhos ou em pequenos grupos, assistiam televisão que se encontravam instaladas em suas vans. Percebia-se alguns deitados e dormindo dentro dos carros. Um pequeno grupo se dedicava a jogo de cartas, que não pudemos descobrir de qual tipo. Mas a grande maioria se dedicava a conversas, seja em duplas, pequenos grupos, ou como no nosso caso, em um grupo mais numeroso de 9 pessoas.

8) Como (e se) há o relacionamento com outros grupos (até oposição): Por alguma razão em especial, há uma separação dos diferentes grupos que encontramos. Nada aparentava o motivo da separação, mesmo considerando a aparência das vans que se encontravam próximas as pessoas pesquisadas. Ou seja, algumas são próprias, em muito bom estado, equipadas. Outras nem tanto, é de se imaginar que sejam de frota. Alguns pareciam simplesmente não estar interessados nas atividades desenvolvidas pelos demais.

Postado por Udo através do e-mail do John

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Sangue Frio

Os motoristas que transportam estudantes muitas vezes são obrigados a suportar ofensas e até agressões por parte de alguns alunos que não conseguem respeitar seus semelhantes, pessoas que enxergam o profissional apenas como um objeto.
Ao cursar o terceiro colegial, em uma cidade distante uns 3 km da minha, éramos transportados por um ônibus, onde 45 pessoas faziam esse trajeto. As últimas cadeiras do ônibus eram ocupadas por aqueles alunos que não gostavam muito de estudar, estavam procurando bagunça e festa. Sempre estavam atormentando os alunos mais reservados e faziam questão de tornar a viagem insuportável para as pessoas que queriam descansar ou dormir.
Certa vez um desses alunos, insatisfeito com tudo o que já havia feito, e procurando meios para se divertir às custas dos outros, resolveu chegar ao cúmulo de suas brincadeiras. No meio do trajeto, abriu a janela do ônibus e começou a urinar para fora, nos carros que passavam na outra mão. O motorista foi comunicado e parou o ônibus imediatamente.
Para surpresa de todos, o aluno se sentiu ofendido, disse que estava pagando e portanto tinha o direito de fazer o que bem entendesse. Ao tentar acalmar o rapaz, o motorista foi atingido com um soco no rosto pelo estudante. O motorista não pôde revidar a agressão e o rapaz foi impedido de embarcar no dia seguinte. As pessoas que estavam presentes viram que o profissional foi agredido gratuitamente e que o rapaz estava completamente transtornado.
Esse é só mais um exemplo das condições enfrentadas pelos profissionais das ruas, pessoas que muitas vezes têm que levar desaforo pra casa e demonstrar sangue frio diante das mais adversas situações.

Cabeça e Coração

A vida dos motoristas de vans escolares não é nada fácil. Muitas vezes são obrigados a cumprir jornadas duplas e até triplas para conseguir um rendimento salarial aceitável. Os perigos das estradas, o cansaço e a fadiga são passageiros fiéis desses profissionais, que muitas vezes passam horas longe das famílias e cruzam quilômetros para chegar ao seu destino final.
Levam nos ombros a responsabilidade sobre dezenas de vidas, que diariamente são transportadas a cidades distantes na busca de conhecimento para a vida. Muitas pessoas não pensam nas condições de trabalho desses profissionais, aos fatores a que são expostos e como conseguem suprir a carência e a solidão, pois muitas vezes, devido a distância, são obrigados a dormir nos próprios veículos até o retorno dos estudantes.
Um turbilhão de emoções persegue esses aventureiros das estradas, condições físicas podem ser dribladas as vezes, mas as condições psicológicas vão além das forças humanas e se transformam em uma barreira importante durante as viagens.
Durante o ano letivo de 2007, fiz o trajeto diário de Amparo a Campinas, aproximadamente 60 km, onde curso a faculdade de jornalismo na Pontifícia Universidade Católica (PUC-Campinas) e era evidente as transformações de humor e personalidade do nosso motorista. Eu era o primeiro a embarcar, por volta das 17:45 hrs. Algumas vezes era recebido com um cumprimento mais caloroso, outras vezes porém, um tímido olhar me era dirigido, podia perceber então que algo no longo dia do nosso motorista não tinha sido tão bom. Éramos 24 alunos, 24 personalidades diferentes, todas com suas vontades, querendo seu espaço, privacidade. Nosso motorista era querido por alguns e não tão querido por outros. Tinha uma personalidade marcante e procurava sempre demonstrar entrosamento e bom humor com os alunos, gostava de participar das conversas e se manter informado sobre as necessidades dos alunos.
Como em todo grupo de pessoas, haviam os mais agitados, que gostavam de beber e cantar, e outros mais reservados, que gostam de ler durante o trajeto ou aproveitar para descansar depois de um dia inteiro de trabalho. Esse ponto de equilíbrio sempre foi complicado, pois algumas pessoas não sabiam, ou não queriam, respeitar a privacidade do outro. Por se tratar de pessoas com idades entre os 20 e 30 anos, ninguém batia diretamente com o outro, os protestos eram feitos ao motorista, a quem cabia a responsabilidade de intermediar as relações e tentar manter o mínimo de ordem durante a viajem.
Saudade da família, esgotamento, e relações pessoais são bagagens obrigatórias em todo transporte, que cai sobre o motorista, que é o direcional das pessoas transportadas. Muitas vezes ainda fazem rodas extras para garantir um dinheiro a mais, não foram poucas as vezes, que ao desembarcar o último passageiro da noite em Amparo, por volta das 00:15 hrs, nosso motorista foi encontrar com outro grupo de pessoas para leva-las até o litoral, sem dormir, sem descansar.
O que leva essas pessoas a enfrentar tantos empecilhos é o amor pela profissão, que deve reger a vida de todos.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Profissionais Autônomos

Diante da inúmera classe trabalhadora registrada no Brasil, encontramos também aqueles que são considerados autônomos, ou seja, trabalham por conta própria. Está é a realidade da maioria dos perueiros de vans escolares, que com o seu instrumento de trabalho, as vans, vão as ruas em busca de seu sustento. A busca por novos alunos torna um verdadeiro campo de “batalha” e muita concorrência. Motivados por seus interesses financeiros os perueiros buscam a cada começo de ano letivo oferecer uma melhor proposta de conforto e tranqüilidade aos pais que muitas vezes não tem condições de levar seus filhos a escola. É verdade que hoje em dia o mundo está cada vez mais corrido. Por conseqüência cresce também o trabalho destes perueiros que lutam pela sua atividade financeira. Muitos motoristas hoje para conseguir uma maior estabilidade financeira trabalham nos dois períodos, o da manhã transportando crianças e a noite, universitários.
O que fazer então para que esta profissão autônoma não chegue ao fim? O jeito é trabalhar muito e com muita prudência para que o seu transporte continue sendo mais um transporte de concorrência na cidade.

Fiscalização

O Departamento de Transporte Público (DTP), órgão ligado à secretária Municipal de transporte, informou que hoje existem cerca de 19.254 motoristas e 8.730 veículos são licenciados para fazer o transporte escolar. Entretanto o Sindicato dos transportes escolares de São Paulo (Simetesp), estima que haja mais de 12 mil vans circulando pela cidade. A diferença é que seja três mil carros com documentação irregular e outras mil clandestinas.

Fonte: Site do Departamento de Transporte Público

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Cadê as mulheres?

Pode-se dizer que não existe idade para ser perueiro, a profissão é exercida por jovens de 25, 26 anos até homens mais velhos com 60 anos ou mais. As pessoas que transportam, porém são geralmente crianças e jovens universitários. Há de se convir que o perfil dos profissionais que levam crianças ou jovens se altera.
Frequentemente o perueiro precisa se adaptar aos tipos de pessoas que transporta em sua van, levar jovens por exemplo, é diferente de levar crianças pequenas. A convivência acaba por levar o perueiro a adotar o linguajar usado por essas pessoas, e mesmo faz com que se crie laços de camaradagem entre eles. Um perueiro que leva uma turma de universitários, por exemplo, aprende certas gírias e para não ficar para trás é claro, também fala besteira, e rebate críticas com a mesma irreverência do jovem.
Os homens são predominantes na profissão. Em nossas pesquisas de campo, só conseguimos localizar uma mulher até agora. Essa característica é semelhante a que ocorre em outros grupos de motoristas, como os caminhoneiros e os taxistas. Nesses grupos também predominam profissionais do sexo masculino.

Apresentação

Para início apresentamos nosso objeto de estudo, os motoristas de vans escolares ou fretados como assim eles dizem popularmente conhecidos como “os perueiros”.
Acreditamos ser um grupo dentro da sociedade que esta próxima a nós universitários, e também distante por serem “diferentes” (a tal estranheza) que o professor tanto fala nas aulas. Essa frase com certeza é bem etnocêntrica, né Álvaro?
Pois é, imaginamos que o trabalho deve ter essa finalidade de aprender analisar o outro com menos juízo de valores.Vamos caminhar para isso!