segunda-feira, 16 de junho de 2008

Heróis do Trânsito

Em tempos de escassez de trabalho formal, onde o homem está sendo substituído pelas máquinas, uma alternativa para se ganhar a vida de forma justa se apresenta cada vez mais necessária. Vários fatores tomam os pensamentos desses profissionais que dependem exclusivamente de seus veículos e da qualidade do serviço prestado para ter um salário no fim do mês.
A sobrevivência nas grandes cidades é cada vez mais cara, a grande maioria das atividades cotidianas demanda dinheiro – inclusive a manutenção dos veículos e o combustível para sua circulação. Por serem profissionais autônomos, sua remuneração da coleta de passageiros por seu itinerário. Fazer seus trajetos no menor tempo possível e com todos os assentos ocupados é o objetivo desses motoristas, o que significa mais passageiros viajando e pagando pela viagem, ou seja, uma melhor remuneração. Embora carregue no seu furgão mais de dez pessoas, a atividade do motorista é inicialmente solitária, ele dirige enquanto seus passageiros dormem, conversam entre si ou até têm conversas consigo. Seu trabalho consiste em pegar os passageiros nos pontos de ônibus e levá-los principalmente até o Centro da cidade. São várias viagens percorrendo o mesmo trajeto, com diferentes pessoas com as quais, muitas vezes, só têm contato visual, somente na hora em que o passageiro acena para embarcar e na hora do pagamento. Ali, entre o volante e sua poltrona, ele é um indivíduo que, apesar de ter o controle por ser o motorista, comporta-se como mais um componente do grupo que viaja junto. Suas impressões, sua vida, suas histórias são compartilhadas, assim com as dos usuários do seu serviço.
O pertencimento ao grupo – ou o sentimento de posse do motorista – pode extrapolar a realidade confinada da van. A ida e a volta podem não r esumir a interação que acontece, uma vez que ela pode se expandir para outras esferas da vida social dos indivíduos do grupo. Motoristas e passageiros podem interagir em eventos sociais, tanto com envolvimento profissional quanto com envolvimento pessoal.
Em cidades como Campinas, não é tão comum o transp orte de passageiros como metrópoles como Rio de Janeiro e São Paulo, onde a vida corre em ritmo frenético, enlouquecido e alucinante. O mais comum em cidades menores é o transporte de alunos para universidades, onde a realidade é um pouco mais tranqüila. São elaborados contratos de dez meses, onde o estudante se compromete a pagar em dia o boleto, sendo impedido de embarcar caso não honre com suas obrigações. Por trabalharem em cidade distantes de suas residência, os motoristas dormem nas vans enquanto os alunos estão e aula, costumam também jogar baralho, assistir tv ou conversar para passar o tempo.
Por depender do dinheiro pago pelos alunos, os proprietários das vans muitas vezes precisam agüentar abusos para não perder um cliente. Alunos exigem que o motorista pare para comprar bebidas, querem transportar pessoas que não fazem parte do grupo de estudantes, como namoradas e amigos e precisa ficar atento para não ter seu veículo destruído por alunos inescrupulosos.
É uma difícil realidade que só pode ser compreendida por quem passa por essa experiência, mas que os heróis do trânsito enfrentam com toda maestria, pois a paixão e a necessidade se confundem nessa profissão. A maior responsabilidade soa motoristas de vans é a certeza de que sua “carga” é composta por seres humanos, pessoas com realidades e necessidades diferentes umas das outras, é necessário um verdadeiro exercício de paciência e bom humor para enfrentar todos os dias esse trabalho que fascina e estressa.

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