segunda-feira, 16 de junho de 2008

"Alma de motorista de van"

Os motoristas de van que passam em cada ponto, em busca de pessoas para transportar, geralmente utilizam estratégias para conseguir isso. A linha 357 que sai da rodoviária em direção ao campus I da PUC-Campinas é um caso como este. Utilizei esse transporte nos últimos dias para determinar se havia alguma diferença entre os motoristas e cobradores das vans e os do ônibus convencional. E essa diferença existe. Nas vans há uma preocupação em tratar bem o usuário do transporte, semelhante a um vendedor com um cliente. O motorista passa devagar nos pontos, espera paciente todos entrarem e se ficar alguém no ponto ainda pergunta: “Vamos?” Como um vendedor que pergunta a pessoa indecisa “Vai levar?”. E se você responde que não, o motorista ou cobrador acena um tchau, como se dissesse: “então deixa para próxima”.Se você decide ir, o cobrador indica lugares para você sentar, se estiver lotado, oferece o próprio lugar para você sentar. No momento de cobrar o pagamento da “viagem”, passa pelos bancos e não reclama se você der uma nota de dez reais. Em todas as vezes que isso aconteceu o cobrador tinha troco para me devolver e não fiquei constrangida como em outras ocasiões, uma delas no ano passado, em que ao passar pela catraca de um ônibus convencional com uma nota de dez reais, o cobrador me destratou dizendo “Você fica sentada aí na frente esse tempo todo, pô tem que falar que não tem trocado”.Como se fosse eu que tivesse obrigação de andar com dinheiro trocado, e não o cobrador. Na van, há uma preocupação em cativar o usuário, para que ele volte a utilizar o mesmo transporte. Essa constatação foi feita quando eu esperava o ônibus de 7:30 hs da manhã em um dia de ônibus cheio. O motorista de van é geralmente proprietário do próprio veículo, diferente dos motoristas de ônibus convencionais, é responsável por seu salário, e não tenta transferir aos usuários do transporte seu mal-estar com relação ao baixo salário ou condições de trabalho. É claro, que isso não acontece sempre. Posso dizer que há motoristas de ônibus com “alma de motoristas de vans”, como o famoso Omar, também da linha 357, que passa as 10 hs e trinta da noite. Acostumado a cortar caminho para driblar o trânsito, fazer camaradagem com os alunos, eu mesma já sentei várias vezes nos bancos da frente para bater papo com o Omar, e já ganhei até uns doces dele, na verdade dois pirulitos. Lembro que fiquei morrendo de vergonha quando ele me disse, só você que não pegou o meu pirulito. Há há há há! O Omar é um exemplo de pessoa que mesmo não fazendo parte efetivamente de um grupo (o dos motoristas de van ) é portador de características que podem identificá-lo como parte. Semelhante ao negro que vive na Amazônia e mesmo não sendo índio, divide com estes crenças e costumes.

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